UM DOS PRINCIPAIS CARTAZES DE NOSSOS LANÇAMENTOS

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

CCMPOSTO DE NOTICIAS DE ACORDO O NOME DO BLOG NO CASO DO ALMANAQUE DO SERTAO A maldição da mosca branca

Praga israelense se aclimata em várias regiões do Brasil e ameaça lavouras de algodão, feijão, tomate e soja





O remédio mais eficiente contra a praga é o uso de agrotóxicos, o que pode atrapalhar o consumo

RACHEL MELLO E ALAN RODRIGUES (FOTOS), DE AÇU (RN)



Elas são muito menores do que um grão de arroz, medem menos de um milímetro. Mas sua capacidade de destruição é inversamente proporcional ao tamanho. São as moscas brancas, uma praga que está devastando plantações de melão, tomate, feijão, uva, algodão e outras 500 espécies de vegetais no Brasil, que agora ameaça um dos principais produtos de exportação do País, a soja. Em pouco tempo, os agricultores vêem suas culturas se tornarem inutilizadas com tomates que não amadurecem, abóboras com folhas açucaradas e prateadas, melões e uvas escurecidos e imprestáveis para o consumo. O ataque dessas pequenas destruidoras de lavouras é rápido e certeiro. Elas sugam a seiva das plantas e injetam venenos que transmitem doenças aos vegetais. A mosca chegou ao País em 1991 pelo porto de Santos, fez algumas vítimas na região Sudeste e, em 1996, atingiu o Nordeste, onde se aproveita das noites quentes para multiplicar-se mais velozmente. Na região, ela já destruiu lavouras inteiras de melancias no Piauí e de algodão no Maranhão. Em Petrolina, Pernambuco, onde a indústria do tomate é a mais importante atividade socioeconômica, 40% da produção foi perdida no ano passado por causa da mosca branca. Os técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), responsáveis pelo controle da praga, ainda não calcularam os prejuízos causados, mas tentam correr contra o tempo antes que ela chegue à soja. "Temos que ser rápidos. A mosca branca ameaça colocar em xeque a economia agrícola do Brasil", alerta o pesquisador Gilson Westin Cosenza.



A pressa faz sentido. Apesar de ser tão pequena, a mosca se espalha com os ventos e consegue se mover por uma área de até 100 quilômetros em apenas dois dias. O maior desafio para combatê-la é vencer a rapidez com que ela se espalha e, ao mesmo tempo, evitar o uso abusivo dos agrotóxicos, que podem fazer a mosca criar resistência aos defensivos. Além disso, ao usar litros e litros de produtos tóxicos em suas lavouras, os agricultores podem contaminar as plantas e inviabilizar sua comercialização e consumo. A guerra contra a mosca, inofensiva aos seres humanos, passa a ser uma ameaça à saúde das pessoas. "Os agricultores brasileiros querem acabar com as pragas em apenas um dia e exageram nos agrotóxicos. No caso da mosca branca, usar apenas química não vai funcionar", alerta a pesquisadora Regina Vilarinho, especialista em pragas da agricultura. Como já foi feito nos Estados Unidos e em Israel, países atingidos pela praga, a melhor opção para combater a mosca é seguir um programa rígido de plantio e programar com cuidado o uso de agrotóxicos. Eles devem ser aplicados gradualmente, do mais fraco ao mais forte, num processo que começa com a inusitada aspersão de detergente de cozinha nos campos e nas ervas daninhas ao redor da área de plantio. E termina com 13 produtos, aprovados em regime de urgência no Brasil em abril deste ano, tudo para tentar controlar os implacáveis ataques da pequenina mosca branca.



"Controlar a praga é uma questão urgente. Mais uma vez o governo demorou demais para agir"

Manoel Dantas, produtor de frutas para exportação

Os caminhos para combater a praga, que não pode ser exterminada, estão sendo ensinados em cursos para engenheiros agrônomos e extensionistas pelo País. Eles agora têm a missão de repassar as informações a 50 mil grandes e pequenos produtores até o começo do verão, quando o clima favorece ainda mais a multiplicação da mosca. Será uma tarefa difícil. Até a semana passada, apenas 160 multiplicadores haviam sido treinados. Se 500 forem treinados, cada um terá a complicada missão de ensinar a mil produtores como usar os agrotóxicos para combater a mosca. A ação é considerada lenta por alguns agricultores. "Barrar a entrada e controlar pragas é uma questão urgente, de segurança. Mas mais uma vez, na questão da mosca branca, o governo demorou demais para agir", acusa o industrial agrícola Manoel Dantas, produtor de frutas para exportação em Açu, em pleno sertão do Rio Grande do Norte.



Dantas sente de perto os riscos de infestação pela mosca. Suas plantações de melão começaram a ser atingidas em julho deste ano. As moscas vieram de uma plantação de algodão, distante cerca de quatro quilômetros dos campos da fruta, reforçadas pelo uso inadequado de agrotóxicos. A aplicação de defensivos segundo as regras ensinadas pela Embrapa tem tido efeito e os níveis de contaminação dos melões são baixos. Tudo indica que as frutas poderão ser colhidas no final de setembro. O exportador Dantas, porém, teme pela aceitação de seus produtos no exigente mercado externo. Na Europa, para onde vende seus melões, os compradores não aceitam frutos com resíduos de defensivos agrícolas. Por isso, ele procura outras formas de atacar a praga. Nos estudos feitos em suas lavouras, agrônomos e pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) identificaram prováveis predadores naturais da mosca branca. São vespas como a bicho-lixeiro.

Gilson Cosenza, pesquisador da Embrapa: "A mosca branca vai colocar em xeque a economia agrícola do Brasil"



A Embrapa também pesquisa parasitas e predadores do inseto, especialmente ácaros e fungos. A possibilidade de que eles possam auxiliar no combate à praga reforça a tese de que os agrotóxicos devem ser usados com cuidado. Os defensivos químicos podem matar esses potenciais predadores. "Nosso objetivo é usar o mínimo possível de defensivos. Não posso correr o risco de ter minhas frutas banidas do mercado da Inglaterra e da Alemanha", explica Dantas. Com mais de 300 agricultores independentes cooperados com sua empresa, ele se esforça para repassar a tecnologia do combate à mosca para esses pequenos produtores. "Vamos aprender a lidar e controlar a mosca branca e salvar nossa plantação", aposta o pequeno produtor de melões Marcos Antônio Silva.



Além da química do defensivo e da tecnologia genética do controle biológico, outras técnicas, mais simples, podem ser usadas no Brasil para manter a mosca branca o mais distante possível das lavouras. Plantar milho ao redor de uma cultura suscetível à praga pode ajudar, uma vez que a planta nunca é atingida pela mosca. Como ela se hospeda em ervas daninhas, há ainda a recomendação de que os plantadores limpem bem o campo um mês antes de plantar. Um calendário de plantio deve ser acertado com os vizinhos para evitar a migração da praga entre os campos. "A praga se aproxima dos campos de soja em Mato Grosso. Já estamos orientando os plantadores de lá sobre essas medidas", diz o pesquisador Cosenza. "Não gosto nem de pensar no que pode acontecer ali, se perdermos o controle."



A presença da mosca branca em Mato Grosso já foi registrada e é realmente assustadora. O Estado tem mais de 2,5 milhões de hectares de soja plantada. Ali, como aconteceu no resto do País, a luta contra a mosca é uma guerra contra o tempo. Sobreviver à mosca branca torna-se uma corrida para quem tem informação e dinheiro para investir até R$ 36 por hectare – ou seja a cada dez mil metros quadrados de lavoura. "Essa praga vai colocar muita gente fora do mercado. Depois da mosca branca teremos um novo perfil de agricultor em muitos lugares do Brasil", avalia o especialista em controle de pragas, Ervino Bleicher. Uma vez que a praga não pode ser destruída, a solução é mesmo aprender a conviver com ela.



Um inseto mutante

A mosca branca surgiu em 1968 em Israel. É provavelmente o resultado de mutações genéticas sofridas por uma espécie de inseto que atacava a agricultura, mas de um jeito menos agressivo. Depois da mutação, a mosca passou a devastar plantações de tomate e espalhou-se rapidamente pela região. Causa tanta preocupação que, desde 1993, os inimigos históricos Israel, Jordânia e Palestina assinaram um acordo de colaboração para combater a praga. Nos Estados Unidos, ela causou prejuízos de mais de US$ 8 bilhões e foi apelidada de "superinseto". Ganhou até reportagem de capa na revista Time. Chegou ao Brasil proveniente da Flórida, em um carregamento de bico-de-papagaio, uma planta ornamental. "É uma praga que além de rápida é inteligente. Ela sabe se movimentar, é resistente a diferentes tipos de clima e resiste aos agrotóxicos mais fortes", explica a pesquisadora Regina Vilarinho.

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