UM DOS PRINCIPAIS CARTAZES DE NOSSOS LANÇAMENTOS

UM DOS PRINCIPAIS CARTAZES DE NOSSOS LANÇAMENTOS

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011


      2  DE AGOSTO É O DIA ESTADUAL DO NORDESTINO     ( SP)

A VIDA NA ILHARGA


Sem pretender fazer reminiscência alguma do tipo saudosista,é natural e evidente que o Dia Estadual do Nordestino que consta no calendário me traz algumas recordações.Como se sabe,o Nordestino é uma criatura igual a todo mundo.A não ser por eventuais diferenças que não vem  ao caso,tem dois olhos,duas pernas,dois braços,uma cabeça,duas narinas e um jeito de falar que a principio parece peculiar,mas dá para se entender.Com os hábitos e costumes da mistura humana,todo nordestino,mulher,homem,criança ou adulto,se adapta á rotina da cidade e vai levando.A isso se chama,simplesmente,vida,Uns progridem,outros regridem,e outros estacionam.Não vão nem para frente nen para trás.
A cidade a que me refiro neste momento é São Paulo.Não é a cidade de meus sonhos nem de meus pesadelos.Ocorre que é o território que tenho as mãos.Em determinada época,foi a cidade dos paulistanos,em que me incluo.Depois veio a época  dos italianos.E,a seguir,pátria dos nordestinos.Embora pareça inacreditável,houve uma região em São Paulo em que de cada dez pessoas doze eram nordestinas.Esse lugar chamou-se Largo da Concórdia,que está sendo remodelado,segundo consta.O Largo da  Concórdia chegou a ser famoso.Lá se apresentou, entre outros artistas,um grande cantor que usava simplesmente  um único microfone,e bastava para encantar multidões.Depois de se ter exibido, Chico Alves,o cantor, pegou a estrada,que era a Via Dutra,e seguiu para o Rio de Janeiro.Mas quis o destino,como se usa dizer, que o nosso pranteado artista sofresse um baita acidente, e ele morreu.Entre as pessoas que choraram estavam vários nordestinos que começavam a freqüentar o Largo da Concórdia.O Largo era, na época, o lugar mais iluminado de São Paulo.Sabiam?No Largo de Concórdia erguia-se um famoso prédio,o Teatro Colombo, que atraía companhias do mundo inteiro.Foi destruído por um pavoroso incêndio-como também era uso dizer-se.No mesmo local subiu uma agência da Caixa Econômica,onde felizardos iriam receber prêmios da Loteria Federal.Bem depois  foi que começaram chegar levas de nordestinos,que transformaram o largo em imenso e caótico mercado de quinquilharias e bugigangas.Essa gente sofrida vinha em bandos,viajando de lugares distantes em paus-de-arara,pessimamente desacomodados,até subir em trens que os traziam para grande cidade onde todos os sonhos se tornariam luminosos.Uma parte desses brasileiros tinha sorte.Ficavam hospedados num grande prédio ajardinado,onde recebiam comida,água limpa,remédio,roupas e, vermífugos.Depois de um tempo na Hospedaria dos Imigrantes,seguiriam para as cidades do interior,onde iam plantar café e cuidar da vida.Dentre  as outras coisas que nunca mais esqueci estão os bandos de criaturas que desciam  dos trens  da antiga Central do  Brasil e percorriam penosamente a Rua Doutor Almeida Lima ( que foi médico e político) para achar seu novo pouso na nova cidade.Atrás de muros funcionavam as oficinas da ferrovia,imensas.As pessoas chegavam cansadas,enxágües.pareciam impressionadas com o novo rumo que se abria.Trazia trouxas de trapos,corotes secos,varapaus nos ombros.Arrastavam os pés.Pareciam temerosas e amedrontadas de encarar o rosto daqueles que as observavam.Os próprios cães temiam aproximar-se dos grupos que invadiam seu mundo.Na época, faz tantos anos!,eu ainda era pequeno de mais para perceber que as crianças carregadas na ilharga das mães e irmãs tinham dois olhos,dois braços,duas pernas,um nariz,uma cabeça,como todo mundo.Pensando bem nem se sabia o que vinha a ser uma ilharga.O único segredo balbuciado,cochichado,é que todos os adultos recém-chegados eram nordestinos.Vinham em busca de um canto feliz na cidade.Iriam torna-se tão importantes que,um dia, no futuro,ganhariam uma data especial no calendário.


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